sábado, 27 de setembro de 2008

O manejo da palavra

Algumas imagens do evento especialmente preparado para os cursistas do módulo II, dia 25 de setembro, teatro da Escola Parque 308 Sul.

















sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Semana de 22 a 26

Lutar com palavras é a luta mais vã.Entanto lutamos mal rompe a manhã.São muitas, eu pouco. Algumas, tão fortes como o javali. Não me julgo louco. Se o fosse, teria poder de encantá-las. Mas lúcido e frio, apareço e tento apanhar algumas para meu sustento num dia de vida(C.D).
Assim estou!!
Passei a semana lutando com as palavras, nesse instante estou em combate, devo registrar que estou em desvantagem. É tão interessante os acontecimentos ao nosso redor, especialmente esta semana, estive às voltas com a escrita...difícil manejo da palavra. Já na segunda-feira tentei atualizar o diário do CFORM, como faltava algumas informações, deixei-o de lado(temporariamente) e dei vazão a minha( suposta) criatividade em algumas páginas da minha monografia. Escrevi, escrevi...ao ler o que tinha escrito( empolgadíssima) tive a nítida sensação de que o texto estava muito repetitivo, sem atrativo, trocando em miúdos, um horror. Inspiração é algo muito interessante! Dia desses estava inspirada e rapidamente escrevi quatro páginas, pensei: Agora vai. Não foi. Olhei o relógio e precisava buscar minha filha no colégio, desde então não voltei ao capítulo que( teoricamente) fluía tão bem. Estou sem paciência para escrever, essa é a verdade, entretanto não posso deixar de fazê-lo, então, escrevo neste momento. Esta pequena introdução acerca da minha paralisia escritora é só para ilustrar o fato de que esta semana foi recheada de informações sobre o processo da escrita, sobretudo, os deveres relativos à escrita. Foram várias as mensagens, por vezes explícitas, em nosso encontro semanal na EAPE planejamos o evento para os cursistas e o debate, falamos muito sobre a resenha( todos muito preocupados), na quinta-feira (25) tivemos um delicioso encontro com as escritoras Lucília Garcez e Margarida Patriota, com destaque para o mediador João Bosco( escritor da Casa de autores) e encontro na UnB, paralelo a isso eu e minha colega Anne tivemos que planejar uma atividade para a Semana de Extensão da UnB, participaremos da "Rodas de LER", da profa Hilda Lontra, terça, quarta e quinta-feira, de 18h às 20h. Terça-feira acertamos os detalhes do evento " O manejo da palavra" e em seguida nos reunimos para planejar o trabalho solicitado pelo prof. Dioney, felizmente não foi díficil chegarmos a um denominador comum em relação ao tema, nota 10 para o feeling dos tutores Maurício e Lenita na organização das idéias, nota 10 para as excelentes contribuições da Lúcia. O encontro com as escritoras foi muito bom, a experiência de ambas com a leitura, o relato da formação leitora, as questões levantadas pelos cursistas, tudo muito pertinente e, certamente, muito enriquecedor para todos que lá estiveram. Hoje na UnB a palavra do dia foi alívio! Socializamos as nossas experiências de trabalho com o filme Desmundo. Os relatos foram supreendentes, foi muito interessante perceber os diversos direcionamentos dados no planejamento com o filme, todos os tutores desde o início planejaram as suas atividades com muita empolgação, ao passo que eu relatei o caminho inverso ocorrido comigo, pois a partir do olhar dos meus cursistas eu puder enxergar o filme e hoje, seguramente, teria outras maneiras de encaminhar um trabalho de leitura. Mas não foi a socialização que nos trouxe alívio, mas o fato de o prof. Dioney ter nos dado mais tempo para prduzir a resenha do livro Raízes do Brasil. Eu sou do grupo dos retardatários e dos sem inspiração, terminei de ler o livro hoje e estou encantada. Registro que às vezes é importante a imposição da leitura, pois dificilmente eu me daria esse presente, principalmente na situação de risco em que me encontro. O livro é um presente, não o recebi assim, mas o transformei à medida que ia lendo. Um registro muito esclarecedor, o apanhado histórico e social, bem como as comparações utilizadas pelo autor serve de estratégia de envolvimento do leitor, mesmo porque com o avançar da leitura passamos a identificar inúmeros fenômenos e estruturas que ainda hoje perduram em nossa sociedade. Gostei muito do livro, do Abaporu na capa e comecei a pensar sobre a intencionalidade daquela imagem, do título, o entrecruzar de imagem e palavra, do que a terra e as raízes representam para nós brasileiros.... conhecimento gera conhecimento é um continuo, vou tentar expor as minhas impressões na resenha. A semana foi muito corrida, faltou-me tempo para muchas cosas, amanhã(sábado) ainda tenho atividades da pós-graduação, resta-me ou melhor dizendo, reservo o domingo para dedicar-me aos meus dois amores que estão reclamando a minha ausência. Boa semana e até mais!!!

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Encontro com escritoras

Cada um de nós é um texto no corpo que ocupa.
Eliana Sarreta

O manejo da palavra
na leitura e na escrita

com

Lucília Garcez

&

Margarida Patriota


Escola Parque 308 Sul
25 de setembro de 2008
8h30 e 14h

José Saramago/Conversa informal sobre o trabalho do escritor

Publicado na Folha de São Paulo, São Paulo, sábado, 6 de maio de 1989.
Da Redação
O escritor português José Saramago esteve na Folha dia 27 de abril para uma conversa informal sobre o trabalho do escritor. Como um escritor escreve? Por que escreve? Há vocação, não há vocação, há livros mais ou menos fortes, os autores projetam seus livros? Saramago, um homem afável e elegante de 65 anos respondeu a todas as perguntas, "sem fintas". Estavam presentes também a escritora Lygia Fagundes Telles, o poeta e tradutor Horácio Costa, o escritor José Silvério Trevisan e as professoras Maria Aparecida Santilli e Wilma Arêas. Falou-se de livros, máquinas de escrever, transverberação e enfartes, da crítica e da relação entre os comunistas e os escritores. A reunião durou duas horas. "Letras" publica uma parte dessa conversa.Folha — Como o sr. escreve? Começa o livro escrevendo à caneta e passa à máquina de escrever, usa o computador direto, dita em um gravador?
José Saramago — Eu escrevia numa máquina de escrever. Depois de ter começado numa caneta, há muitos e muitos anos, quando não havia sequer esferográficas - nunca usei esferográfica, porque é um tipo de escrita que nunca me agradou, uma escrita sempre igual - passei a escrever diretamente à máquina, a partir de uma experiência jornalística que tive em 72/73. Por circunstâncias alheias à minha vontade eu estava a trabalhar numa editora e tive de ir trabalhar para um jornal. Evidentemente eu nunca tive uma formação jornalística, nem uma vocação jornalística, digamos; foi alguma coisa que tive de fazer contra vontade. E aí a regra mandava que se tinha de escrever à máquina. Devo algumas coisas ao jornalismo. Com certeza, do ponto de vista tecnológico devo isso. Como estava obrigado a escrever à máquina, habituei-me de tal forma a isso que depois e até hoje, seria completamente incapaz de escrever, enfim, com a velha caneta a tinta permanente, e tampouco com a esferográfica, porque me dá a idéia de que tudo escreve mais depressa - ou que tudo escreve mais devagar do que aquilo que eu necessito. A minha máquina era uma máquina velhíssima, que tinha pelo menos 30 anos, uma Hermes Média, toda ela metálica, que já não se fabrica mais, evidentemente. Chegou a um tal estado de depauperamento físico, que quando se avariava, o mecânico, por duas ou três vezes, teve de fabricar peças para que ela pudesse continuar a funcionar. Essa máquina de escrever deu o último suspiro com o final da história do cerco de Lisboa.
Folha — E agora?
José Saramago — Neste momento tenho um processador de texto, atualizei-me tecnologicamente e estou diante duma inquietante dúvida: do que serei capaz de escrever com essa figura nova, que já não tem aquele ar familiar da minha máquina de escrever e é uma coisa que tem umas luzes que acendem e apagam e tudo o mais? Enfim, eu já me habituei e penso que vou continuar com ele. Eu sempre tive a preocupação de folha limpa, sem correções. Agora com as novas tecnologias isto já não é assim, porque o texto está sempre limpo. Eu levava tão longe esta preocupação, que se me enganava, por exemplo com um erro de digitação - em vez de pôr um "m" metia o "o", por exemplo, na primeira, segunda ou terceira linhas -, minha dificuldade em aguentar o texto sujo ia ao ponto de arrancar a folha e tirá-la fora. A partir da décima linha ou coisa que o valha, já admitia que me pudesse enganar, mas normalmente, e isso verificou-se muito neste último livro. Se ao fim de um dia de trabalho escrevia três ou quatro páginas, por exemplo, vinha um segundo tempo, digamos, desse mesmo trabalho: corrigir essas três ou quatro páginas e limpá-las de forma que quando fossem juntar-se às outras já estivessem limpas. Isto significa que quando eu cheguei ao fim do livro tinha praticamente o livro escrito e revisto, apenas com algumas emendas que eram necessárias. Tanto assim que nem foi preciso passar outra vez a limpo para o entregar ao editor. Tenho, de fato, a mania da página higiênica, embora ache perfeitamente fascinante olhar para uma prova vista pelo Eça de Queiroz, por exemplo, ou por Balzac, que são coisas perfeitamente alucinantes. Há provas do Eça de Queiroz, e são já as provas tipográficas, em que aquilo que ficou de 20 linhas, por exemplo, é uma linha e meia, porque o resto foi todo destruído, modificado. Eram tempos em que a mão-de-obra era barata e o compositor tipográfico podia fazer e desfazer e tornar a fazer, que o livro nunca saía caro.
Folha — Você precisa ter uma situação psicologicamente muito definida ou já chegou num ponto em que é só fazer um "clic" e a musa pinta de lá de dentro?
José Saramago — Eu penso que sofro apenas de um tipo de condicionamento: sou incapaz de escrever fora de casa. Escrever num hotel ou coisa assim. Há, realmente, colegas meus que vão acabar um livro em um hotel. Sou um homem que tem uma rotina, sou muito rotineiro a trabalhar. Não atuo por impulso, tenho consciência de que a primeira coisa necessária para escrever é sentar-se uma pessoa na cadeira e esperar. Eu não vou sentar porque tenho o impulso de escrever, eu sento-me para que esse impulso venha. É como quem tem que se pôr a jeito para que as coisas sucedam. Provavelmente isto desilude, vai decepcionar aquelas pessoas que têm do ofício do escritor uma visão romântica, arrebatada, byroniana, se quisermos. Eu não sou, quer dizer, não me vejo como um funcionário da escrita.
Folha — Você projeta os seus romances? Ou seja, você projeta a ação, você projeta o esquema narrativo antes? Como é que você concebe os romances? Eu sei, por exemplo, que essa história do cerco de Lisboa já vem de alguns anos.
José Saramago — A idéia inicial da "História do Cerco de Lisboa" é de 72 ou 73. Já é uma idéia, mas não é mais que uma idéia, um cerco de Lisboa. Naquela altura nem sequer tinha algo a ver com um cerco histórico. Era uma situação de cerco um pouco fantástica. Depois deste tempo todo nem sou capaz de ter uma idéia já muito definida disso. Essa idéia foi de 72 ou 73. Desde então eu escrevi sete ou oito livros com esse tema sempre vivendo cá dentro. Já se vê que há um tempo para ter as idéias e há um tempo para que elas possam ser realizadas. Mas como é que as idéias surgem? É um bocado difícil. Eu não tenho um plano, eu não fiz como, digamos, o grande mestre Balzac, que fez um plano, numa certa altura de sua vida e depois resolveu arregaçar as mangas e dizer agora vou fazer isto, realizar este plano. Um livro nasce-me porque tem que nascer e não porque eu tenha decidido antes.
Folha — Na entrevista que o sr. deu à Folha há quinze dias, o sr. comentou a questão da força de dois livros, a Bíblia e o Alcorão. Como escritor, essa força que os livros têm sempre esteve na sua consciência ou de repente foi uma surpresa?
José Saramago — Eu acho que os livros não têm essa força. Os livros não têm força alguma. O que acontece é que um ou dois ou três tenham uma força, que não lhes vêm do fato de ser um livro, mas do fato de serem códigos. De serem códigos, de serem leis, porque no fundo o Alcorão não é outra coisa se não isso, a Bíblia não é outra coisa se não isso e a Torá não é outra coisa se não isso. Representa uma lei que tem duas faces, uma lei que é lei humana, porque a Bíblia sabemos muito bem que no Antigo Testamento é feita por uma sociedade concreta, de homens concretos, que estão ali e que vão ser regidos por aquelas leis. E há o lado que é o da suposta revelação, a face divina. Dois livros ou três tomaram realmente uma força exorbitante. Não há nenhuma razão para que esses livros tenham mais força do que qualquer outro livro. Objetivamente não há, porque foram escritos pelas mãos de homens, não com processadores de textos, nem com máquinas de escrever, mas foram as mesmas mãos de homens que os escreveram. O que pode ser assustador - porque o é de fato - é como é que em nome dum livro se faz o que se faz. Se nós pensarmos, tudo isto é assustador. É evidente que esta súbita revelação, esta revelação do escândalo, eu a chamo assim, é muito recente.
Folha — Você considera escrever um ato de que? Você classificaria como o quê esse gesto extremo, coragem?
José Saramago — Eu diria assim, desta maneira muito simples, um ato de escrever é só um ato. Não é nada mais do que isto. Não lhe chamo ato de coragem. Eu sou provavelmente, escandalosamente, prosaico. Não acredito em vocação. Só se pode ter - imaginando que a vocação exista - vocação para as profissões que já existem. Na verdade é a própria necessidade social que vai criando as atividades e as profissões e depois nós vamos para elas. Às vezes, dizemos que fomos para elas porque não tivemos outra solução. Mas, também podemos, somos capazes de dizer, ah, eu fui para isto pela minha vocação. Mas qual vocação? Ninguém pode ter a vocação para a informática antes de a informática existir. Eu vou dizer uma coisa terrível. A transverberação de santa Teresa de Jesus, santa Teresa D´Ávila, o êxtase dela, e peço desculpas se ofendo os crentes, acho que ela teve simplesmente um enfarte do miocárdio. Quer dizer, a agudíssima dor no coração que ela atribuía a Jesus, que a estava transpassando com o raio fulminante do seu amor, não era mais que um enfarte do miocárdio, porque eu presumo que naquele século já havia enfartes de miocárdio.
Folha — Como você concilia o escritor e o comunista? Como é que a coisa se processa agora no seu cotidiano?
José Saramago — Eu acho extremamente interessante essa pergunta, que é fatal, é uma pergunta que vem sempre: como é que você sendo comunista e escritor, como é sua relação com o partido e tudo isso e tal. Mas, é lamento, uma pergunta feita como se um comunista fosse um caso particular da humanidade. Essa pergunta nunca é feita a um escritor de direita. Nunca. Não há memória de que a um escritor de direita, mesmo que seja um reacionário completo, de alguém perguntar-lhe que relação você tem, sendo escritor, com o partido onde você está, que é a coisa pior que há no mundo, de reacionarismo, fascista e tudo o mais. A esse nunca se pergunta. Mas ao escritor que caiu em comunista ou comunista que caiu em escritor, sempre a pergunta vem. Então, eu direi que, tal como no conjunto dessas coisas já ficou claro que tenho uma relação pacífica com as coisas do meu trabalho e na relação que o meu trabalho tem com os outros, que não há relação mais pacífica que aquela que eu tenho com as minhas convicções, em primeiro lugar, com o partido que consubstancia, digamos, assim, essas mesmas convicções. Sou dentro e fora desse partido - fora quando não estou em relação direta com ele, dentro quando há o momento, quando estou em seu nome -, digamos assim, há uma relação de perfeita lealdade, de perfeita responsabilidade e de perfeita liberdade. Quer dizer, eu escrevo exatamente o que quero, exatamente como quero, sem nenhuma prévia determinação, orientação, conselho, aviso, prevenção, arranjo todas as palavras que quiserem, vindas direta ou indiretamente do meu partido. E por uma razão imediata e simplicissima, é que eu sendo convictamente aquilo que sou, também convictamente acho que o meu partido não é competente em matéria literária.
Folha — Como é o seu diálogo com a crítica, se é que existe ou lhe interessa?
José Saramago — Há, realmente, uma certa crítica, que se comporta, digamos, atravessando os passos às escuras, onde se pode pensar porque não se vê o que lá está, está vazio. Esse tipo de crítica leva archote e escolhe um caminho, vai às escuras. Só vê aquilo que o seu próprio archote vai iluminando. Essa é a crítica que, no fundo, só vê o que está no seu caminho, o que significa que só vê o que está no caminho que escolheu. Se escolheu ignorar o resto, o archote não chega lá. Não vai usar archote. Só falará daquilo que o seu próprio archote iluminará. Bom, isso aplica-se a qualquer país do mundo porque, infelizmente, há muita crítica que se comporta desta maneira. A relação com a crítica em Portugal, neste momento, é bastante boa, provavelmente porque praticamente não existe crítica. Há um outro jornal que faz recensões. Quer dizer, algo que não é o que estamos a falar, da crítica, crítica, crítica. Às vezes, recensões feitas com inteligência, com sensibilidade, feitas por pessoas que, enfim, tem alguma capacidade, mas que não significa, de modo geral uma preparação clara, enfim, quer acadêmica, quer não, mas que justifique exatamente essa espécie de missão, de intermediários entre o autor e o público. Já que, realmente, a grande função da crítica é essa. Não é dar lições ao autor, porque o autor não as quer. Não as quer e ainda que quisesse recebê-las, não pode. Não pode, o autor tem o seu caminho próprio e ficará muito aborrecido se lhe disserem que seu livro é mau. Ele, aliás, vai escrever outro livro mau pelas mesmas suas próprias razões. Enfim, não há que fugir disto. Agora, para o público é indispensável. Então, digamos, o que está a acontecer hoje numa relação, a relação entre o público e o autor em Portugal está a fazer-se diretamente. Não passa pela mediação da crítica. A crítica, enfim, vai falando. Os críticos que há, que —repito— não são muitos, vão, enfim, falando dos livros e tudo o mais, mas é realmente uma relação direta entre público e autor.
Folha — Que é o ideal.
José Saramago — Eu não diria que é o ideal, porque, na verdade, embora eu tenha dito aqui algumas palavras, enfim, não muito lisonjeiras para um certo tipo de crítica, a verdade é que eu considero a crítica necessária. Eu considero a crítica indispensável.
Fonte: http://almanaque.folha.uol.com.br/entsaramago.htm

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Pesquisa aponta queda no número de estudantes no Brasil; nível de escolaridade sobe

LUISA BELCHIORColaboração para a Folha Online, no Rio

O nível de escolaridade da população brasileira aumentou em 2007, mas havia menos estudantes nas salas de aulas que em 2006. No ano passado, 56,3 milhões de brasileiros estudavam --0,5% menos que no ano anterior.
Os dados constam da Pnad 2007 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgada nesta quinta-feira. A pesquisa, que faz levantamentos socioeconômicos anuais da população brasileira, coletou dados em 147.851 domicílios de 851 municípios do Brasil.
Apesar de registrar queda no número de estudantes, a Pnad mostra uma melhora no grau de instrução entre os que estudam. Em 2007, 30,4% da população brasileira em idade ativa (acima de dez anos de idade) tinha 11 anos de estudo. Em um período de 15 anos, este índice mais que dobrou: era de 14,1% em 1992.
Entre a população com idade ativa, os que trabalhavam tinham mais anos de estudos que os desocupados, afirma a Pnad. Em 2007, a população com mais de dez anos de idade que trabalhava tinha em média de 7,7 anos de estudo, contra 6,9 da população com mais de dez anos (incluindo ocupados e desocupados).
A queda mais acentuada do número de estudantes em 2007 aconteceu na região Centro-Oeste --foram 2,2% a menos que em 2006. Já os Estados do Sul apresentaram os melhores índices. Em Santa Catarina, 99% das crianças e jovens de 7 a 14 anos estavam em salas de aula em 2007, mostra a Pnad.
Entre os alunos mais novos, de 4 ou 5 anos de idade, o maior crescimento ocorreu no Norte do país: 56,7% das crianças nessa idade freqüentaram a escola na região, contra 54,6% em 2006.
Redes pública e privada
A rede pública ainda concentra a maior parte dos estudantes brasileiros. Em 2007, 79,2% dos estudantes, ou 44,5 milhões de pessoas, estudavam em instituições públicas de ensino.
Mas a rede privada se faz cada vez mais presente, sobretudo no ensino superior. Ela concentrou, em 2007, 76% dos estudantes de nível superior, ou 4,7 milhões de pessoas. Em 2006, o ensino superior privado tinha 4,4 milhões de estudantes.
No ensino superior público também houve crescimento de alunos, mas menor que no privado: de 1,4 milhão em 2006 para 1,5 milhão em 2007.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Menos de 1% prioriza educação ao votar, indica pesquisa

Bom para refletir!

Agencia Estado
O brasileiro não prioriza a educação na hora de votar, constatou a primeira edição da pesquisa anual do Ibope sobre educação. De acordo com o levantamento, menos de 1% da população considera as propostas para a educação determinantes na escolha do prefeito. O estudo revela ainda que 68% dos entrevistados não têm a menor idéia do que o atual governante está fazendo pela educação em seu município.Na avaliação do ministro da Educação, Fernando Haddad, o desinteresse pela educação parte das classes dirigentes. "O que temos que fazer é sensibilizar a classe política, os empresários e a sociedade civil de que educação é a base da civilização. Sem ela, não há crescimento econômico distribuição de renda, queda da criminalidade. É um trabalho de longo prazo, pois no Brasil é muito recente esse despertar para o valor da educação", disse o ministro no lançamento do movimento Educar para Crescer, quando foi divulgada a pesquisa, no Museu da Casa Brasileira, em SP.Na pesquisa do Ibope foram ouvidas mil pessoas, com idade entre 16 e 69 anos, de todas as classe sociais, moradoras de nove regiões metropolitanas do País: Salvador, Fortaleza, Recife, Distrito Federal, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo.

Poema de um aluno da APAE

ILUSÕES DO AMANHÃ

"Por que eu vivo procurando um motivo de viver, Se a vida às vezes parece de mim esquecer? Procuro em todas, mas todas não são você. Eu quero apenas viver, se não for para mim, que seja pra você.

Mas às vezes você parece me ignorar, Sem nem ao menos me olhar, Me machucando pra valer.

Atrás dos meus sonhos eu vou correr. Eu vou me achar, pra mais tarde em você, me perder.

Se a vida dá presente pra cada um, o meu, cadê?

Será que esse mundo tem jeito? Esse mundo cheio de preconceito.

Quando estou só, preso na minha solidão, Juntando pedaços de mim que caíam ao chão, Juro que às vezes nem ao menos sei, quem sou.

Talvez eu seja um tolo, que acredita num sonho, Na procura de te esquecer, eu fiz brotar a flor, Para carregar junto ao peito, E crer que esse mundo ainda tem jeito.
E como príncipe sonhador...Sou um tolo que acredita, ainda, no amor".
PRÍNCIPE POETA (Alexandre Lemos - APAE)
Este poema acima foi escrito por um aluno da APAE, chamado, pela sociedade, de excepcional.. Sim excepcional, excepcional sensibilidade pras coisas da vida e suas relações!!!
Ele tem 28 anos, com idade mental de 15 e entendo que vale a pena divulgar por três motivos: Qualidade: Bem escrito, de facil leitura e assimilação de conteúdo. Mérito do autor;Competência: O que é bom, ou pode trazer bondade, crescimento, reflexão, agregando valor, deve ser divulgado e conhecido;Oportunidade: quebra de paradigma, quem foi(é ainda???) afastado do convivio social por se considerar retardado mental (era esse o nome dos excepcionais até 40 anos atrás) volta, em seu ambiente de exílio(esses asilos, orfanatos, na verdade, prisões diferenciadas) a produzir esta preciosidade de trabalho, mostrando que talvez os embotados mentais(socio-filosoficamente) somos nós, os ditos normais, que sequer, tivemos capacidade de interpretar e seguir as recomendações do filho do PAI, que esteve entre nós, há dois mil anos atrás.(em respeito aos meus grandes amigos ateus, peço trocar "recomendações do filho do PAI", por, "práticas solidárias humanísticas e fraternais") Boas Reflexões e uma boa semana.

domingo, 14 de setembro de 2008

Eros e psiquê

Poema de Fernando Pessoa na voz de Maria Bethânia, lindo!!!

Eu, Maria Elvira e Hilda Lontra - Aniversário da querida Xane


Professora Caroline Rodrigues _ formadora da manhã


Turma de tutores e a profa. Caroline 12.09


Cursistas do módulo 2


Sob o capuz:Uma leitura do conto Chapeuzinho Vermelho à luz da crítica literária feminista

O modo de ler um texto é também um modo de produzir sentidos.
PCN, Língua Portuguesa

Na quinta-feira(11) passada tive a oportunidade de apresentar aos cursistas do módulo 2, um trabalho preparado e realizado com alunos variados na UnB. Trata-se de uma oficina de leitura com abordagem multimodal, acrescentada de outros conceitos para melhor subsidiar o trabalho de leitura dos cursistas com o seus alunos. Inicamos com a clássica pergunta: O que é ler? as respostas foram variadas passando pela decodificação até prazer estético, ler é isso e muito mais, a leitura passa pela concepção de língua que o professor têm, aliás todo o trabalho em sala de aula envolve essa concepção, esclarecemos que o trabalho produzido fundamentou-se na concepção sociocognitivointeracional que, segundo Koch, privilegia os sujeitos e os seus conhecimentos nao processo de interação. Em seu livro Letramento literário, Rildo Cosson diz que a capacidade de leitura dos alunos depende, em parte, da maneira como lhes foi ensinado, do que a sociedade acredita ser objeto de leitura e assim por diante (p.29), portanto nada mais pertinente do que oferecer metodologias de ensino de leitura em uma formação continuada. Nesse sentido, para subsidiar o trabalho com a leitura em sala de aula, trocamos informações acerca dos seguintes temas : Texto multissemiótico(multimodal), crítica literária feminista, estética da recepção, contos de fadas, leitura, entre outros.
Oferecer aos professores cursistas a possibilidade de se desenvolver um trabalho de leitura crítica por meio do conto Chapeuzinho Vermelho deve ter soado estranho, entretanto com o desenrolar das atividades foi possível perceber um outro olhar: O olhar de envolvimento.
Trabalhos com professores, sobretudo de mudanças de paradigmas, devem oferecer um certo grau de cumplicidade e creio ter com os cursistas, pois fico bastante a vontade para trocar idéias e informações com eles, mesmo porque eu aprendo muito mais do que ofereço, dado o envolvimento que eles têm com a educação. Produzi uns slides para nortear a aprentação, fiz um levantamento prévio de quem conhecia a história de Chapeuzinho, a profa. Celestina, DRE PP, contou-nos a versão que conhecia, ao passo que eu apresentei a versão objeto daquele trabalho, desconhecida por todos, absolutamente compreensível visto que a versão mais difundida mundialmente é a dos irmãos Grimm. Contei-lhes trechos da versão de Charles Perrault e a moral existente ao fim da história. Apresentei-lhes ainda, a história da avó, e ambas fizeram-nos entender a carga sensual ( e sexual) que permeia o conto Chapeuzinho Vermelho. Partindo da premissa de que o professor deve partir do que o aluno conhece para o que ele desconhece afim de ampliar os seus horizontes falamos sobre a crítica literária feminista, gênero(categoria), canône e outros temas recalionados ao feminino. Destacamos a necessidade de se ler na perspectiva de gênero para diminuir o preconceito contra a mulher, ocasião em que a profa. Carmenci, DRE Guará, compartilhou com o grupo uma situação de preconceito explícito dos alunos do sexo masculino em relação às alunas, evidenciando, inclusive, o enraizamento e a perpetuação desses preconceitos no seio familiar.
Há de se ter uma preparação teórica e estratégias bem definidas para trabalhar o tema, uma das possibilidades é conto de fadas, pois a leitura competente desse subgênero impossibilitará o avanço do preconceito em relação à mulher subjacente à essas produções, a literatura, de um modo geral, facilitará o trabalho com gênero, sugeri a leitura de Sexualidade & Educação, Guacira Lopes Louro, pois tal leitura permite-nos compreender melhor fenômenos ligados ao universo adolescente na escola e a preconceitos que se perpetuam no espaço escolar devido ao despreparo do docente. O passo seguinte foi a leitura em três olhares do conto o que resultou um excelente trabalho de crítica em relação ao texto, comentamos ainda formas de se trabalhar nessa perspectiva com os alunos, pois muitos deles possuem o horizonte de expectativas e experiências muito estreito, nesse sentido, oferecer uma contextualização da época de circulação do texto, instigar, trabalhar interdisciplinarmente, talvez estas sejam algumas das palavras-chave numa aula de leitura.
Esclareci que a escolha desse conto deveu-se a sua incrível popularidade; inúmeras traduções e recriações, sobretudo em paródias, aliás Chapeuzinho Vermelho é extremamente parodiado e é no espaço parodístico que a crítica literária feminista encontra espaço para subverter a ordem do patriarcado. Trabalhamos com várias modalidades de textos: imagético, auditivo e impresso, todos com a intenção de ampliar o horizonte de espectativas do leitor. Ao término ofereci aos cursistas Chapeuzinho Vermelho nos seguintes gêneros textuais: Quadrinhos, cordel, poema, conto, piada e paródia e solicitei que preparassem uma aula, definindo estratégias de leitura( com a abordagem ou concepção que lhes convier)para o gênero textual escolhido, a tividade deverá ser realizada com seus alunos e registrada no portfólio, o grupo optou porealizar a tarefa no ínicio do 4º bimestre. O encontro foi muito bom, pois trocamos muita informação num curto espaço de tempo, para o trabalho com o professor e com os alunos utilizei o mesmo material, mas em se tratando de professor é nessário oferecer um suporte teórico e aumentar a complexidade dos conteúdos, para que o que foi oferecido possa subsidiar-lhe em uma ocasião futura. Para ser mais um pouco deste trabalho somente no Colóquio de Letras da UnB, ocasião que apresentarei o meu trabalho com Chapeuzinho Vermelho, espero que a minha experiência exitosa possa desencadear muitas outras, de maneira a subsidiar um efetivo letramento em nossos alunos e professores em formação continuada. Boa semana e até mais.

Semana de 08 a 12 de setembro




A semana foi dedicada à leitura, incrível, parece que o céu conspirou ao meu favor, pois preciso de toda inspiração possível para escrever a monografia do curso de especialização em Letras que, felizmente, é sobre leitura e ensino. Nesta semana tivemos: EAPE, encontro p/estudo, encontro com cursistas e UnB.
Nossa formação está interessantíssima, será que o prof. Dioney está querendo devolver o ritmo acadêmico aos tutores? ele tem nos estimulado muiiiito, leituras, fimes, resenhas eagora....seminário. Quem disse que a vida de tutor é fácil? sem falar na disciplina de mestrado...têm tutor arrancando os fios de cabelo. Creio que tudo isso é parte do processo de formação, é inegável que temos aprendido muito e que nenhum de nós é o mesmo do ínicio do curso. A maioria de nós, não está habituada a leituras e estudos constantes e, penso eu, o prof. Dioney deseja despertar esse lado pesquisador em todos os tutores.
Como parte de uma atividade proposta pelo prof. Dioney, assistimos ao filme Desmundo, ainda em agosto, fizemos uma boa discussão acerca da língua, da temática, entre outros temas. Tentamos fazer uma ponte entre o estudo do fascículo 6 e o filme, bem como a importância de se conhecer a história da língua, uma vez que, por meio da história da língua é possível entender e desmistificar o preconceito lingüístico, velendo-me do Bagno, nada na língua é por acaso e buscar entender essa evolução linguística é um desafio para o professor de língua portuguesa. Utilizei a abordagem dos três olhares para ler o filme, pois em outra ocasião minha leitura restringiu-se ao 1º olhar, ou seja, a leitura elementar. Confesso que a nossa discussão( grupode curssitas) redimensionou o meu olhar, sobretudo em relação à pesquisa lingüística, quantos falares, quantas raças, quantos brasis. O prefixo de negação Des+ mundo, dá pistas em relação à temática do filme, a negação de mundo, qual a noção de mundo que os desbravadores teriam? Desmundo é um filme bruto, duro, tal qual a vida de todos que aqui estavam e daqueles que aqui atracaram, por razões variadas. Nesta terra instalaram-se pessoas da pior espécie, não nos sendo díficil supor o porquê, em grande maioria vieram os homens. Desbravar a terra, abrir caminhos, tornar-se rico e, sobretudo, formar um mundo novo, talvez não tão novo quando consideramos a ideologia que aportava-se aqui, novas terras e velhos costumes; explorar, essa era a palavra de ordem. Estudar a história da formação da nossa língua, da nossa sociedade são essenciais para entendermos fenômenos existentes nos dias atuais. Nesse sentido Desmundo é ímpar, pois além da grandiosa pesquisa lingüística, temos um retrato do povo e dos costumes da época, da relação do estrangeiro com os nativos e dos homens com as suas mulheres, o que nos elucida uma série de acontecimentos contemporâneos. Entender que não há pureza lingüística, tampouco social é um grande avanço para o docente, principalmente, para acabar de vez com a noção tradicional de erro. A língua, assim como a sociedade, muda e ambas tal qual foram concebidas, jamais daria conta das preemências dos dias atuais: jovens, internet, blog, fotolog entre outros, cada dia temos que aprender a lidar com as possibilidades de linguagem, entender as variações e mudanças lingüísticas, saber que existem 240 línguas em uso no Brasil são fatores que nos fazem rever os nossos conceitos, ou pelo menos deveriam. Convido vocês a ssistirem ao filme Desmundo e registrarem as suas impressões, durante a semana irei postar os textos que me foram enviados pelos cursistas, espero que as produções possam tocar de alguma maneira aos leitores deste espaço virtual, promovendo uma reflexão acerca da nossa língua.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

O ensino da comunicação: O psicólogo suíço Bernard Schneuwly diz que os professores precisam de material didático para trabalhar com leitura e escrita

Você pode não conhecê-lo pelo nome, mas o trabalho do suíço Bernard Schneuwly, professor da Universidade de Genebra, já deixou de ser novidade há algum tempo, principalmente para quem leciona Língua Portuguesa. Suas idéias sobre gêneros e tipos de discurso e linguagem oral estão nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Desde a década de 1980, o psicólogo de 49 anos, doutor em Ciências da Educação, pesquisa como a criança aprende a escrever. Os estudos resultaram na criação de seqüências didáticas para ensino de expressão escrita e oralidade. Os conceitos presentes nesse material didático se difundem aos poucos no Brasil. Schneuwly vem colaborando com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo em trabalhos na área e pesquisadores da instituição estão publicando uma coleção com seqüências didáticas inspiradas no modelo suíço. A seguir, os principais trechos da entrevista que ele concedeu a NOVA ESCOLA.
NOVA ESCOLA> O que seus estudos propõem de novo no ensino da língua?
Bernard Schneuwly< Colocamos a questão da comunicação no centro do ensino da língua materna. Esta é a mudança mais significativa: dar às crianças mais possibilidades de ler, de escrever textos, de aprender gramática e ortografia em função da comunicação.
NE> As aulas de gramática devem ser dadas em função dos textos?
Schneuwly< É essencial ensinar as crianças a ler e a produzir textos. Quando começam a estudar elas têm de realizar essas tarefas e, de maneira geral, não se dá importância suficiente à questão. Isso não significa deixar de dar também um pouco de gramática à parte. É possível fazer isso analisando sentenças complexas extraídas dos próprios textos. Há ainda uma outra maneira, mais forte na Suíça: pedir que os estudantes escrevam sentenças que depois são usadas para análise e aprendizado.
NE> Quanto tempo da aula deve-se dedicar à gramática?
Schneuwly< Em meu país, e eu sei que aqui acontece o mesmo, cerca de 70% ou 80% do ensino da língua corresponde a gramática e ortografia e apenas 20% ou 30% a leitura e escrita. Temos trabalhado para chegar a um equilíbrio. Além disso, acho que há gramática demais nas séries iniciais e de menos nas finais. Na Suíça, depois do ensino elementar, os estudantes aprendem apenas literatura. Mas há problemas gramaticais complexos que poderiam ser estudados por jovens de 16, 17, 18 anos.
NE> Por que há um peso maior em ortografia e gramática?
Schneuwly< Porque é mais fácil dar aulas sobre esses dois temas. Existem livros didáticos e dicionários disponíveis. No entanto, muitos educadores não sabem o que fazer no momento de trabalhar leitura e escrita. Eles precisam de material para isso.
NE> É o trabalho que o senhor vem desenvolvendo na Suíça?
Schneuwly< Sim. Em 1990 houve uma demanda oficial do governo para que o grupo de pesquisa do qual faço parte criasse um material que ajudasse a ensinar expressão escrita e oralidade. Ao mesmo tempo os docentes diziam, em congressos, que precisavam lecionar comunicação mas não tinham métodos. O fato de os professores terem pedido mudanças foi muito importante. Era sinal de que eles estavam prontos para adaptar-se. Mais do que se tivesse havido uma imposição.
"Os brasileiros falam bem. A escola precisa ensinar a falar em situações formais, num debate ou para um grupo"
NE> Como é o material?
Schneuwly< São quatro volumes. Um destinado para 1ª e 2ª séries, um para 3ª e 4ª, outro para 5ª e 6ª e o último para 7ª , 8ª e 9ª. Em todos eles há uma apostila que deve ser usada pelo aluno e outra pelo professor, escrita para que ele possa usá-la sem dificuldade, com apenas um dia de treinamento. São cerca de 40 seqüências didáticas para diferentes tipos de texto: científico, ficção científica, histórias de aventuras, crítica literária, entre outros.
NE> A oralidade também é trabalhada?
Schneuwly< Sim. As crianças a desenvolvem ao fazer uma entrevista, participar de um debate ou expor um tema para uma platéia, por exemplo.
NE> Recursos como esses conseguem mudar o trabalho do docente? Ou ele precisa de mais formação?
Schneuwly< Esse é um problema importante e sua solução deve levar um longo tempo. Há dois pontos envolvidos. Um é a formação inicial. A nova geração tem uma educação melhor e consegue trabalhar da maneira que propomos com mais facilidade. Por outro lado, há a necessidade de formar aqueles que já estão na ativa, que são numerosos. Com o material em mãos, a capacitação pode se dar na teoria e na prática.
NE> Como as seqüências são usadas?
Schneuwly< A criança entra em contato com vários gêneros de texto que serão vistos novamente no futuro. Na primeira vez que estuda entrevista, por exemplo, ela está no 4º ano. Nessa fase, conhece técnicas simples e vai entrevistar um funcionário do colégio. Ela prepara o questionário mas aprende que, se formular as questões espontaneamente, conseguirá melhor resultado. Uma folha pode ser levada com a relação de perguntas de um lado e, no verso, palavras-chave. A consulta será feita só se houver problemas. Outra dica é perguntar algo sobre o que o entrevistado acabou de falar, e não apenas emendar uma questão da lista na outra.
NE> Quando esse mesmo tema será visto novamente?
Schneuwly< No 8º ano, só que com técnicas mais elaboradas. Nessa fase, os alunos estão estudando os diferentes modos de falar. Por isso, têm que entrevistar estrangeiros que aprendem francês em Genebra, ou especialistas em oralidade, como um padre ou um advogado. Eles vão ouvir, ler, analisar, observar, comparar, fazer, escrever. Vão aprender também como redigir a abertura do artigo, apresentando o entrevistado. Nosso método leva à análise e à produção de um gênero.
NE> O programa se desenvolve em forma de espiral?
Schneuwly< Exatamente. O estudante vê determinado gênero uma vez, depois uma segunda e, às vezes, até uma terceira. Debates, por exemplo, são estudados na 3ª, na 6ª e na 9ª séries. A primeira coisa que ele aprende é a ouvir o que está sendo dito. Isso porque é importante usar o que o interlocutor disse, integrando as palavras dele ao seu próprio discurso. Outra coisa: se uma pessoa fala algo que deve ser contestado, isso deve ser feito de maneira não agressiva. São muitas as técnicas.
NE> Aprendemos, de maneira natural, os gêneros orais primeiro. Nas aulas eles devem ser ensinados antes dos escritos?
Schneuwly< Eles podem ser vistos ao mesmo tempo. A escola não ensina a falar. E os brasileiros, particularmente, se expressam muito bem. As crianças daqui são fantásticas! O que precisamos é prepará-las para situações formais, como um debate, uma exposição para um grupo. Para nós, pode começar ao mesmo tempo, porque a escrita ajuda a oralidade e vice-versa.
NE> A psicolingüista argentina Emilia Ferreiro defende há mais de 20 anos a utilização de textos variados, principalmente em substituição à cartilha. Há relações entre as idéias defendidas por ela e as suas?
Schneuwly< Acho que dizemos a mesma coisa com outro nome. Talvez uma diferença esteja no fato de que nós, quando trabalhamos com um gênero, nos aprofundamos bastante nele. Isso leva uma semana, duas, até quatro. Uma outra possível diferença é que Emilia Ferreiro trabalha apenas com os pequenos e nós, até com os adolescentes. Mas as idéias provavelmente não são contraditórias. O importante é que os gêneros representam textos como são vistos nas situações diárias.
NE> Existe um tipo de texto que só é visto na sala de aula?
Schneuwly< Quando você aprende um gênero durante as aulas ele sai da situação social e se transforma num gênero escolar. Uma entrevista feita nessa situação não é a mesma coisa que uma realizada por um profissional. Para nós não há problema nisso, porque acreditamos que a escola é uma instituição social onde as pessoas aprendem. Então, é absolutamente necessário que faça adaptações. Emilia Ferreiro critica as cartilhas por serem textos que não existem fora da classe. Não concordo com ela nesse ponto.
"Emilia Ferreiro critica as cartilhas por serem textos que não existem fora da classe. Não concordo com ela"
NE> Por quê? Isso não é verdade?
Schneuwly< A idéia de Ferreiro é velha porque parece ruim haver diferença entre a vida real e a escola. É claro que não deve haver uma grande diferença. Mas alguma, sim. Na escola há uma situação social real para a aprendizagem. Lá pode-se correr riscos e cometer erros. Um jornal serve para informar as pessoas. Se você o leva para a sala de aula, ele não está lá mais para esse fim, mas para ser aprendido. Queiramos ou não, não é mais o mesmo contexto social.
NE> Quando um professor leva diversos materiais para a sala de aula, está trabalhando com diferentes gêneros de texto?
Schneuwly< Não. Gênero é a forma mais ou menos convencional que um texto assume: uma entrevista, uma receita culinária, uma história de aventura. Quando você lê um jornal, por exemplo, há muitos gêneros dentro dele e a criança tem que aprender isso.
NE> Gêneros são conteúdos ou ferramentas de trabalho?
Schneuwly< São os dois. É muito fácil explicar isso quando se pega uma receita culinária. Ela é um gênero, tem uma certa forma lingüística, uma estrutura, um vocabulário, mas ao mesmo tempo é, claro, uma ferramenta usada numa situação de comunicação. Transmite a uma pessoa como se prepara uma omelete, por exemplo. Sem essas formas estabelecidas, a comunicação seria muito complicada. Se você não soubesse como é uma entrevista, como seria nossa comunicação nesse momento?
NE> Os estudantes expostos a essa metodologia aprendem mais do que a ler e escrever de maneira adequada?
Schneuwly< Com certeza. Por exemplo, quando os ensinamos a escrever uma carta para um jornal sabemos que, provavelmente, eles não terão necessidade de produzir muitos textos desse tipo. Mas, nesse processo, aprenderão também a argumentar. Eles adquirem capacidades, principalmente capacidades gerais de comunicação.

O ensino da comunicação/

“A poesia está mais viva que nunca”

Luiz Recena Grassi e Maiesse GramachoDa Secretaria de Comunicação da UnB
Roberto Fleury/UnB Agência
Não é uma entrevista, é uma aula. Conversar mais de meia hora com o poeta Affonso Romano de Sant´Anna é assim: uma viagem pedagógica pela poesia e pela cultura brasileira. Com mais de 70 anos de idade e 50 de militância espontânea na poesia e na vida cultural brasileira, Sant´Anna chegou a um nível especial, aquele onde é rara a resposta frágil ou o comentário impreciso. O poeta desce do muro e não foge das questões sensíveis ou, quem sabe, de uma casquinha de banana... como a questão das muitas "mortes" da poesia, tema que norteou sua palestra no Simpósio de Crítica de Poesia, promovido pela Universidade de Brasília (UnB). O evento integra a programação da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília, que acontece até o próximo domingo, 7 de setembro. Antes, porém, Sant´Anna falou, com exclusividade, à equipe da UnB Agência.
UnB AGÊNCIA: As várias "mortes" da poesia, brasileira e mundial, um dos assuntos que você vai tratar em sua palestra. O que seria isso?
AFFONSO ROMANO DE SANT´ANNA: A chamada modernidade, que existe há 150 anos, mais a cultura do século XX, tem uma característica muita estranha, pois decretou a morte de alguns valores. Veja: o dadaísmo, o futurismo, todos os movimentos artísticos do século passado propunham destruição. Houve quem propusesse a destruição dos museus. Iniciou-se na cultura ocidental um movimento diferente do que havia até então. Antes, a idéia de história, de arte, era uma idéia de construção, de algo que ia para um lugar determinado, o artista construía sua obra. Na modernidade, como disse Beaudelaire, "a destruição foi sua Beatriz". Então, essa cultura, a arte, etc. acabou chegando a um beco sem saída, como se fosse a cobra engolindo o próprio rabo. Ficou ininteligível, enigmática. Com isso, o grande público olha a arte moderna com um certo estranhamento, com dificuldade, como se ela não fosse para ser entendida ou gostada. É possível ver isso nos museus. Em Paris, dos clássicos até os impressionistas, sempre há muita gente nas salas; enquanto nas salas de arte moderna, diminui muito o público, como se não houvesse nada o que olhar. Isso merece análise, e, inclusive, é o tema de um livro que devo lançar em breve, e que vai um pouco além do que escrevi em Desconstruir Duchamp.

UnB AGÊNCIA: Mas e as "mortes" da poesia?
SANT´ANNA: Quando comecei a fazer poesia, nos anos 50, a primeira notícia que tive foi a de que a poesia tinha morrido, uma situação um pouco estranha, como se você fosse namorar uma moça e alguém dissesse que ela já morreu... Comecei a estudar e, a todo momento, aparecia um grupo para matar a poesia. O mais notório deles foi o dos concretistas, que anunciou que o verso, o lirismo, a poesia, tudo tinha acabado. E que dali para frente o poema seria visual, ideogramático, publicitário. O verbo estava proibido. Houve um grupo que chegou a rasgar poemas de Drummond, Cabral e vários poetas numa cerimônia em frente ao Teatro Municipal, no Rio. Matar a poesia tornou-se um modo de vida, uma profissão para muitos... O que prova, pelo paradoxo, que se tanta gente tenta matá-la, é porque ela está viva. A poesia está mais viva que nunca. Tem mais poetas e poesia no mundo hoje do que quando comecei a escrever. As pessoas sentem mais necessidade de se exprimir por meio da poesia.
UnB AGÊNCIA: E hoje, talvez, elas tenham mais meios de expressão, com a internet...
SANT´ANNA: Temos, sim, um cruzamento da fome com a vontade de comer... De todas as artes, acho que a poesia foi a que mais se beneficiou, interagiu, com essa nova forma eletrônica. Mais do que o romance, mais do que as artes gráficas. A prova é a quantidade de sites de poesia que existem.
UnB AGÊNCIA: Você veio para um simpósio de crítica de poesia. Como avalia a crítica de poesia no Brasil, atualmente?
SANT´ANNA: Outro dia escrevi um artigo sobre isso. Chamei de "evangelização da crítica no Brasil" o que está acontecendo hoje. Todo dia surge uma igreja nova, alguém funda uma igreja no quintal de sua casa, sem preparo, sem estudar teologia. E logo aparecem os crentes. Quando comecei, adolescente, a fazer literatura, no país havia cinco, seis críticos, que eram uma espécie de crivo. Você publicava um livro e esperava o que eles tinham a dizer. Havia parâmetros. Hoje o que existe são resenhadores. Uma fragmentação que revela a ausência de grandes críticos. Será que tudo é possível em arte? Não. Nem todo mundo é artista e nem todo mundo é critico. São especialidades. A tarefa de um bom crítico é demonstrar porque uma obra funciona ou não, porque é boa ou porque não é.


UnB AGÊNCIA: O que você acha da iniciativa de realização de uma bienal internacional de poesia em Brasília?
SANT´ANNA: Há vários aspectos a destacar. Primeiro, o de ser em Brasília, uma cidade que deve ter a preocupação de criar coisas, de aglutinar e provocar discussões. Segundo, é a universidade, no caso a UnB, assumindo seu papel. E, em terceiro lugar, porque a bienal não está privilegiando somente os autores locais e nem apenas uma geração específica. É um encontro de diversos tipos de manifestação poética, de dentro e fora do Brasil, uma espécie de balanço. A última vez que se fez isso foi em 1973, no Rio, com a Expoesia, que reuniu mais de 600 poetas. Foi fantástico! E em plena ditadura, uma época de confrontos.
UnB AGÊNCIA: As discussões do simpósio e da bienal também vão abordar o diálogo entre a poesia e outras artes...
SANT´ANNA: Esse diálogo é inevitável. Quando as artes nem sabiam que eram artes, mas simples expressões simbólicas e espontâneas dos homens, elas eram integradas. Hoje, na sociedade planetária, é claro que a poesia deve usar todos os recursos. O curioso é que, com o advento da internet, os poetas ganham um recurso que nunca houve na história. As gerações anteriores dependiam de revistinhas, com edições pequenas, circulação ínfima. Hoje, é só publicar na internet... A poesia passou a ser um gênero transnacional por excelência. Quem sabe os poetas do século XXI conseguem resolver um problema que os do século XX não resolveram: eles não souberam usar os meios de comunicação. Os poetas encolheram diante do rádio e da televisão, preferiram o resmungo solitário, o escrever uns para os outros, e às vezes nem eles mesmos se entendiam. Quem saía dessa redoma era um exibicionista. Quem fosse à televisão, então, era reprovado. Ninguém lembra, por exemplo, que, na época da guerra, poetas como a russa Anna Akhmatova, iam para a rádio ler poesia para defender o país. Fiz poesia para a televisão, outros fizeram para o rádio; falava-se mal de quem fazia isso, ninguém queria ocupar esses espaços.
UnB AGÊNCIA: Ao longo dos anos, quais foram as dificuldades que você encontrou para produzir poesia?
SANT´ANNA: Um conjunto de coisas, é difícil discriminar. Minha primeira impressão foi a de que o poeta era, essencialmente, um desempregado. Tanto é que este foi o título do meu primeiro livro: "O desemprego do poeta". Tive também outro constrangimento: ultrapassar o autoritarismo das vanguardas, que, em geral, são autoritárias e messiânicas, não admitem dissidência. Tive que enfrentar, ainda, a luta pelo "poder literário", e descobri que o sistema artístico é ferocíssimo, um Butantã, cheio de serpentes, todo mundo querendo comer o outro, devorar, derrubar; ou seja, não são almas cândidas torcendo pelo bom, pelo belo. Essa descoberta, concomitante com a ditadura, foi algo parecido com a expulsão do Paraíso.


Affonso Romano de Sant´Anna nasceu em Belo Horizonte, em 1937. Desde os anos 1960, teve participação ativa nos movimentos que transformaram a poesia brasileira. Destaca-se como teórico, poeta, cronista, professor e jornalista. Com dezenas de livros publicados, foi professor em diversas universidades brasileiras (UFMG, PUC-RJ, URFJ e UFF) e no exterior.Foi autor de trabalhos pioneiros sobre música popular, como o livro Música popular e moderna poesia brasileira. Como jornalista, trabalhou nos principais jornais e revistas do País, entre eles Jornal do Brasil, Veja, IstoÉ e O Estado de S. Paulo. Foi cronista da revista Manchete, do jornal O Globo e, atualmente, escreve para O Estado de Minas e Correio Braziliense.Durante a ditadura militar, Sant’Anna publicou corajosos poemas nos principais jornais. Dessa épova, o poema Que país é este? foi transformado em pôster e afixado em escritórios, sindicatos, universidades e bares.Como presidente da Biblioteca Nacional, realizou, entre 1990 e 1996, a modernização tecnológica da instituição, informatizando-a, ampliando seus edifícios e lançando programas de alcance nacional e internacional. Recebeu vários prêmios nacionais destacando-se o da Associação Paulista de Críticos de Arte pelo conjunto de sua obra. Sua produção tem sido objeto de teses de mestrado e doutorado no Brasil e no exterior. É casado com a escritora Marina Colasanti.